Google AI Mode: a revolução que ameaça a sobrevivência dos portais de conteúdo

Tiago Paiva
Lido a 6 Minutos

O Google AI Mode, uma nova funcionalidade de busca baseada em inteligência artificial, está em fase experimental, mas já acende um alerta vermelho para portais de conteúdo, blogs, e veículos de imprensa do mundo inteiro.

Com base no modelo Gemini 2.0, o AI Mode promete entregar respostas completas, contextuais, interativas e multimodais, diretamente na interface do Google. O usuário não precisa mais navegar por links para encontrar a resposta desejada — a IA faz isso por ele, resumindo e organizando conteúdos de diversos sites em uma única resposta integrada. Para o usuário, parece prático. Para os produtores de conteúdo, é um desastre anunciado.

🧠 A inteligência da IA vem de onde?

Essa nova ferramenta se alimenta justamente dos mesmos sites que agora podem ser ignorados pelo usuário. Blogs, fóruns especializados, portais de notícias e plataformas independentes — todos fornecem gratuitamente o insumo bruto que sustenta a inteligência do Google. Mas, ao contrário do que seria justo, não há uma contrapartida financeira clara. A IA extrai, processa, reformula e responde. O criador original do conteúdo raramente é valorizado ou sequer mencionado.

📉 O fim do tráfego orgânico?

Para muitos sites, o Google Search tradicional é — ou era — a principal fonte de tráfego. Era comum que 60%, 70% ou até mais do acesso diário viesse de buscas orgânicas. Com o AI Mode, esse modelo está sendo ameaçado.

A lógica é simples: se a resposta completa está na primeira página do Google — embalada, formatada e mastigada — por que clicar no link?

E isso não é uma previsão futura: o Search Labs já está em testes e afetando o tráfego de vários sites. O Google Discover, por sua vez, já impactou seriamente os acessos de portais jornalísticos, ao entregar resumos de manchetes diretamente na tela inicial dos celulares Android.

💰 Monetização em risco

A consequência direta da queda de audiência é a redução brutal da monetização por publicidade. Menos visualizações, menos impressões, menos cliques. O modelo de negócio da maioria dos sites ainda depende disso. Com menos receita, como manter redações, repórteres, editores, programadores e servidores?

Os links patrocinados (AdSense/AdWords) também serão afetados. Se a resposta mais útil já estiver na primeira página da IA, o clique no anúncio patrocinado se torna cada vez mais improvável.

🧭 E o impacto social?

Sem audiência, como os veículos de comunicação independentes sobreviverão? Como manteremos um ecossistema de vozes plurais, se apenas as grandes plataformas tiverem os dados, o público e o poder?

A desinformação prospera em ambientes onde o conteúdo de qualidade morre. Se o Google e outras big techs centralizarem ainda mais a produção e distribuição da informação, quem fiscaliza? Quem garante diversidade de pensamento? Quem paga pelo jornalismo?

⚖️ Hora de reagir: os veículos devem cobrar pelo uso do conteúdo

Diante desse cenário, é urgente que os portais de conteúdo se mobilizem e passem a cobrar do Google pelo uso e indexação dos seus conteúdos nas ferramentas de IA. Essa é uma questão de direitos autorais e sustentabilidade da informação confiável na internet.

Outros setores já se organizaram. O Spotify paga artistas. O YouTube paga criadores. Por que o Google pode usar conteúdo jornalístico para treinar e alimentar IA sem qualquer pagamento?

A mobilização precisa começar agora. Não quando o AI Mode estiver implementado globalmente. Não quando a audiência já tiver despencado. Os veículos precisam discutir estratégias conjuntas, políticas públicas, medidas jurídicas e negociações coletivas.

🧩 Um futuro sem sites?

Se nada for feito, o risco é real: os portais de conteúdo virarão apenas matéria-prima gratuita para os robôs do Google. E, como sabemos, até mesmo as melhores IAs ainda cometem erros — erros que custam caro quando envolvem saúde, política ou finanças.


📣 É hora de agir. Que os veículos se unam. Que o debate avance. E que o conteúdo continue tendo valor.

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Sobre o autor

Tiago Paiva é Publicitário, Estudou Liderança da Inovação no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e Direção de Projetos Complexo em Cambridge. Esteve a frente da Gerência de Projetos Estratégicos no Ministério da Educação e membro do Conselho da RNP. Liderou o planejamento de projetos complexos como Ronda no Bairro e Modernização do Transporte Público em Manaus. Como Diretor-Presidente da PROCESSAMENTO DE DADOS DO AMAZONAS, gerenciou orçamento de 350 milhões de reais, com transparência e prestação de contas rigorosa. Coordenou inovações técnicas e administrativas. Como Coordenador Geral de Modernização da SUFRAMA, impulsionou o desenvolvimento econômico ao gerir incentivos fiscais no Polo Industrial de Manaus. Liderou projetos estaduais no governo do Amazonas, contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Habilidades em gestão de projetos, transparência financeira, coordenação de equipes e inovação. Comprometido com o progresso e desenvolvimento do país

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