O transporte público no Brasil e no mundo passa por um processo irreversível de modernização. A substituição dos cobradores de ônibus por sistemas automatizados de pagamento, como cartões e bilhetes eletrônicos, é um reflexo dessa evolução. Embora essa mudança traga eficiência e redução de custos operacionais, ela também levanta questões sociais, especialmente em relação ao desemprego e à adaptação dos trabalhadores.
A Extinção dos Cobradores e a Modernização dos Transportes
A retirada dos cobradores dos ônibus não é um fenômeno recente. Diversas cidades brasileiras já adotaram essa medida há anos. Segundo levantamento do setor, pelo menos 33 municípios eliminaram completamente a função de cobrador, entre eles Campo Grande (MS), Joinville (SC), Maringá (PR) e Sorocaba (SP). Em algumas dessas cidades, o sistema já opera exclusivamente com bilhetagem eletrônica há décadas.
Recentemente, Manaus se tornou um exemplo desse processo ao anunciar a demissão de mais de 2.000 cobradores do sistema de transporte coletivo. A decisão foi justificada com base na necessidade de modernização e no uso crescente de cartões de transporte. No entanto, o impacto social foi imediato, gerando preocupação entre trabalhadores que dependiam dessa função para sua subsistência.
A digitalização dos meios de pagamento no transporte público é uma tendência mundial. Em grandes capitais, os passageiros já podem pagar suas passagens por meio de cartões bancários com tecnologia de aproximação ou até mesmo por aplicativos de celular. Esse modelo, além de reduzir custos operacionais, agiliza o embarque e oferece maior comodidade aos usuários.

A Uberização do Transporte e a Precarização do Trabalho
A transformação dos sistemas de transporte coletivo pode ser comparada ao fenômeno da “uberização“. O termo se refere à substituição de empregos formais por modelos flexíveis baseados em tecnologia, como ocorre no setor de transporte individual. A ascensão de aplicativos como Uber e 99 levou à queda do mercado de táxis tradicionais e gerou debates sobre as condições de trabalho dos motoristas.
No transporte público, a extinção dos cobradores representa uma mudança similar. O uso da tecnologia reduz a necessidade de mão de obra humana, o que leva à diminuição de postos de trabalho sem que necessariamente haja uma política estruturada de requalificação profissional para os trabalhadores afetados. Assim como ocorreu com taxistas, os cobradores agora precisam encontrar novas formas de inserção no mercado.
O Avanço dos Veículos Autônomos e a Automação Total
Se a substituição dos cobradores já causa um impacto profundo no setor de transportes, o futuro promete mudanças ainda mais radicais. Em países como a China, veículos autônomos já operam tanto no transporte de passageiros quanto no setor de cargas. Empresas como Baidu testam ônibus sem motoristas, e caminhões automatizados já percorrem estradas transportando mercadorias sem intervenção humana.
A tendência aponta para um modelo de transporte cada vez mais independente da atuação direta do trabalhador. Ônibus autônomos e sistemas integrados de inteligência artificial podem, em um futuro não tão distante, eliminar também a necessidade de motoristas, tornando o transporte coletivo completamente automatizado.

Conclusão: Modernização X Impacto Social
A modernização dos transportes não pode ser ignorada. A digitalização e a automação trouxeram melhorias significativas em eficiência, segurança e custo-benefício para empresas e usuários. No entanto, essa transição também exige um olhar atento para os impactos sociais e trabalhistas.
A extinção dos cobradores já acontece há décadas em algumas cidades, mas a aceleração desse processo nos últimos anos evidencia a necessidade de políticas públicas que assegurem a recolocação desses trabalhadores no mercado. O avanço tecnológico é inevitável, mas cabe à sociedade e aos governos garantir que ele ocorra de maneira equilibrada, minimizando impactos negativos e criando novas oportunidades para aqueles que são diretamente afetados pela inovação.
O desafio, portanto, não é impedir o progresso, mas sim garantir que ele aconteça de forma justa e sustentável.